quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Voltar para glorificar a Deus

Todo-poderoso, santíssimo, altíssimo e soberano Deus,
Pai santo e justo, Senhor, Rei do céu e da terra,
Por Ti a Ti damos graças,
Pois que, por Tua santa vontade,
E por Teu Filho unigênito, com o Espírito Santo,
Criaste todas as coisas espirituais e corporais.
À Tua imagem e semelhança nos fizeste,O paraíso por morada nos deste,
Donde, por nossa culpa, caímos.


A Ti damos graças pois que,
Como por Teu Filho nos criaste,
Assim também, pelo santo amor com que nos amaste,
Fizeste que Teu Filho, verdadeiro Deus e verdadeiro homem,
Nascesse da gloriosa Virgem Santa Maria,
E, pela Sua cruz, Seu sangue e Sua morte,
Quiseste resgatar-nos a nós, os cativos.


E a Ti damos graças porque esse mesmo Teu Filho
De novo há-de vir na glória da Sua majestade
Para lançar ao fogo eterno os malditos
Que recusaram converter-se e conhecer-Te
E para dizer a todos quantos Te conheceram,Te adoraram e Te serviram em penitência:
«Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo» (Mt 25, 34).


E porque somos, nós todos, indigentes e pecadores,Dignos não somos de pronunciar o Teu nome;
Aceita pois, Te suplicamos,Que Nosso Senhor Jesus Cristo,
Teu Filho muito amado, em Quem puseste todo o Teu agrado,Com o Santo Espírito ParáclitoTe dê graças por tudo,Como a Ti e a Ele agradar,
Ele, que é Quem sempre em tudo Te basta,
Ele, por Quem tanto fizeste por nós. Aleluia!


São Francisco de Assis (1182-1226), fundador dos Frades Menores
Primeira regra, 23 (a partir da trad. Desbonnets et Vorreux, Documents, p. 78)

domingo, 19 de setembro de 2010

Ir. Miria em Teixeira de Freitas



Nem sei o que dizer...

Neste final de semana estivemos com a Ir. Miria Kolling!

Sempre achei que esse era o nome de um anjo que vinha aqui na terra, de vez em quando, trazer umas músicas da liturgia do céu.

Não.

É uma mulher de carne e osso, que canta, dança, ri, e que, de vez em quando, vai ao céu levar umas canções da liturgia da terra.




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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A Palavra

a palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração.” (Hb 4,12)

A palavra de Deus é viva: isso quer dizer que quando olho pra ela, ela olha para mim. Da mesma forma que ela me fala, posso também a ela falar. Se eu a toco, também por ela sou tocado. Se eu a envolvo em meu colo, do mesmo modo sou envolvido por ela. A palavra de Deus é Espírito e vida (Jo 6,63).

A palavra de Deus é eficaz, ou seja, não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado sua vontade e cumprido sua missão.(cf. Is 55,11)

E onde será que fica a divisão da alma e do corpo? Diga-me quem for capaz! Ninguém senão o próprio Criador, que, no princípio, disse: “Faça-se!” e por sua palavra tudo foi feito. (cf. Gn 1)

A Palavra discerne os pensamentos e intenções do coração: Ela é essência de um Deus que vê, ouve e conhece as necessidades do seu povo. (cf. Hb 3,7-8)

A Palavra de Deus se fez carne e habitou entre nós.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Da imitação de Cristo


Ouve, filho, minhas palavras suavíssimas, que superam toda a ciência dos filósofos e sábios deste mundo. Minhas palavras são espírito e vida (cf. Jo 6,63), não ponderáveis por humanas inteligências.

Não devem ser puxadas para a vã complacência, mas escutadas em silêncio, acolhidas com total humildade e afeição íntima.

Eu disse: Feliz a quem instruis, Senhor, e lhe ensinas tua lei para que o alivies nos dias maus (Sl 93,12-13) e para que não se sinta abandonado na terra.

Eu, diz o Senhor, ensinei no início aos profetas e até hoje não cesso de falar a todos. Porém muitos, à minha voz, são surdos e endurecidos.

Muitos se comprazem em atender ao mundo mais que a Deus; com maior facilidade seguem os apetites de sua carne do que a vontade de Deus.

[...]

Jamais falha a alguém minha promessa, nem sai de mãos vazias quem em mim confia.

O que prometi, darei; o que falei, cumprirei.

Sou eu o remunerador dos bons e inabalável acolhedor de todos os fiéis.

Escreve minhas palavras em teu coração e rumina-as com cuidado; serão muito necessárias no tempo da tentação.

O que não entendes ao ler, entenderás quando te visitar.

Costumo visitar de dois modos meus eleitos: pela tentação e pela consolação.

E lhes leio diariamente duas lições: uma, argüindo seus vícios; outra, exortando a progredir na virtude.

Quem tem minhas palavras e delas faz pouco caso, terá quem o julgue no último dia (cf. Jo 12,48).

Autor desconhecido (Extraído do Ofício das Leituras)

Alimento

"Quando encontrei tuas palavras, alimentei-me; elas se tornaram para mim uma delícia e
a alegria do coração, o modo como invocar teu nome sobre mim, Senhor Deus dos
exércitos."
(Jr 15,16 - Leitura breve das Laudes, II Segunda-feira)


Senhor, encontrei tuas palavras. Na a encontrei por acaso, mas vieram falar-me dela. Sejam benditos aqueles a anunciaram!
Benditos sejam meus pais!
Benditos sejam meus catequistas!
Benditos sejam meus padres!
Benditos sejam meus amigos!
Benditos sejam os que me concederam provar desse alimento divino!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A escada para o Paraíso de SANTA ROSA DE LIMA

"sem a cruz não há caminho que leve ao céu.

1. depois da tribulação se seguirá a graça;
2. sem o peso das aflições não se pode chegar ao cimo da graça;
3. a medida dos carismas aumenta em proporção da inten
sificação dos trabalhos;
4. Acautelem-se os homens contra o erro e o engano.

É esta a única verdadeira escada do paraíso
.

Não podemos obter a graça, se não sofrermos aflições; cumpre acumular trabalhos sobre trabalhos, para alcançar a íntima participação da natureza divina, a glória dos filhos de Deus e a perfeita felicidade da alma."

Ao mesmo tempo e com a mesma intensidade com que fala de aflições, trabalhos e sofrimentos, Santa Rosa fala da beleza da graça divina. Pois que as aflições, os trabalhos e os sofrimentos são condições vitais para se alcançar tal benefício. E mais: se descobríssemos o valor da graça, não fugiríamos, mas, ao contrário, nos empenharíamos para encontrar penas e aflições.

Na vida dos santos é que encontramos o reflexo das bem-aventuranças do evangelho: "Bem-aventurados os que sofrem...".

http://www.liturgiadashoras.org/oficiodasleituras/santarosa.html

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Lectio Divina e a Vida

Em verdade a Lectio Divina é um processo que envolve toda a nossa vida, desde o momento que aderimos à fé, até o último dia de nossa caminhada.

Foi assim para os discípulos de Jesus.

Eles, atendendo ao chamado do mestre, passaram a ouvi-lo, a saber o sentido das parábolas, a ver os seus atos, seus exemplos de vida. Fizeram uma verdadeira "leitura de Cristo".

Também, a exemplo da Mãe, conservavam tudo que tinham visto e ouvido, meditando em seus corações (cf. Lc 2, 19). Tanto que mesmo depois de muitas décadas lembravam de detalhes das palavras e das obras do Mestre e os contaram em seus Evangelhos.

Seguindo a Cristo pelos montes onde costumava orar e, inflamados pelo seu exemplo, sentiram o ardente desejo de também aprenderem a rezar, e pediram ao Senhor: "ensina-nos!" (Lc 11,1). Unânimes na oração (At 1, 14), permaneceram no Cenáculo juntamente com Maria, mãe de Jesus, até o dia de Pentecostes.

Tendo chegado o momento aguardado, subiram ao degrau da contemplação ao serem revestidos com os dons do Espírito Santo. Então compreenderam, pelo dom da fé, os sentidos da paixão e ressurreição do Senhor e a razão verdadeira do chamado: o anúncio do Evangelho a todos os povos. E, vivendo a vida de Cristo, sofrendo os mesmos ultrajes, açoites e martírios, foram dignos de serem chamados "Cristãos", desde Antioquia (At 11,26) até os dias de hoje.

Se do Senhor as palavras ouvirmos, se delas extraírmos o significado para nossa vida, se juntos com ele subirmos ao monte da oração, se sua vida tornar-se impregnada em nós a ponto de sermos "cristãos" de fato, não apenas em momentos determinados, mas em todo o tempo, então podemos dizer que somos discípulos de Jesus, e fazemos da nossa vida uma viva e verdadeira Lectio Divina.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Contemplatio


"Como uma criança que a mãe consola, sereis consolados
em Jerusalém." (Is 66, 13)

Desde sempre entendi a "contemplatio" como "consolatio". Aqueles que choram pela oração são consolados na contemplação. Bem-aventurados estes (cf Mt 5,4).

A contemplação é a resposta à nossa oração. É a manifestação sensível da presença de Deus por meio do seu Espírito, que entra no cenário da nossa vida através da porta aberta pela oração. É obra daquele Paráclito prometido por Jesus, que haveria de ensinar toda a verdade (cf. Jo 16, 13), não da maneira racional, mas do suave consolo da fé.

Não devemos atribuir à palavra "contemplação" apenas o seu sentido mais usual que é de "olhar com atenção", mas o seu segundo sentido: "dar a; doar a; fazer mercê a". É Deus quem nos dá a sua graça, e nós somos "contemplados".

Penso que é esse o verdadeiro sentido que Guigo, o cartuxo, quis dar ao último degrau da sua escada, aquele que toca o céu, pois assim o descreve:
"E o Senhor, cujos olhos são fixos nos justos e cujos ouvidos estão não só atentos às suas preces (cf. Sl 34, 16), mas presentes nelas, não espera a prece acabar. Pois, interrompendo o curso da oração, apressa-se a vir à alma que o deseja, banhado de orvalho da doçura celeste, ungido dos perfumes melhores.
Ele recria a alma fatigada, nutre a que tem fome, sacia a sua aridez, lhe faz esquecer tudo o que é terrestre, vivifica-a, mortificando-a por um admirável esquecimento de si mesma, e embriagando-a, sóbria a torna." (Scala Claustralium VII)

Assim, pela contemplação somos impregnados por esse orvalho do céu, de modo a buscarmos, mais vivamente, andar conforme a vontade daquele que veio em nós habitar.
"Não cesso de agradecer a Deus por vós, pela graça divina que vos foi dada em Jesus Cristo. Nele fostes ricamente CONTEMPLADOS com todos os dons, com os da palavra e os da ciência, tão solidamente foi confirmado em vós o testemunho de Cristo." (I Cor 1, 4-6)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Oratio


Chegamos ao momento da oração.

Como é isso? Só no terceiro degrau oramos de fato?

Mas é o movimento natural da vida!

Quando nascemos, qual a primeira coisa que fazemos antes de soltar o choro? Resposta: inspiramos o ar. Claro! antes de nascer, o oxigênio que nos chegava era através do sangue da mãe. Ao nascer inspiramos pela primeira vez. Ao inspirar, o ar chega aos pulmões, e, através dos pulmões, leva oxigênio a todos os órgãos do corpo.

E então, descobrimos a necessidade de algo que ainda não compreendemos. Por não compreender, choramos. É a única coisa que sabemos fazer. Descobrimos depois que aquela necessidade que nos levou ao choro era de conforto, carinho, alimento...

A Lectio Divina é como esse processo do nascimento.

A leitura é a inspiração. A meditação é quando o oxigênio é espalhado pelo corpo. A oração é o choro.

No Ofício das Leituras de sexta-feira após as cinzas lemos que:
"como uma criança que, chorando, chama sua mãe, a alma deseja o leite divino, exprime seus próprios desejos pela oração e recebe dons superiores a tudo que é natural e visível."(Pseudo-Crisóstomo).

Porque não sabemos orar como convém, emitimos, após inspirar, gemidos inefáveis (Rm 8,26).

Esse gemidos são a expressão do coração que ouviu e mergulhou no mistério. E não importa o tipo, a forma ou a fórmula da expressão. O que importa agora é dizer a Deus...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Meditatio

"Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração". (Lc 2,19)

Antes que Bruno, o Cartuxo, explicasse o sentido dos degraus, a Virgem já os praticava. Antes que os exegetas tentassem dar novo sentido ao logos e rhema de Platão, a mãe de Jesus já os demonstrava. Só conservando a Palavra e meditando-a no coração é possível trazer a Lei e os Profetas do seu contexto histórico para o atual; traduzir as metáforas para a linguagem corriqueira; transportar a teologia para a prática. É assim o Magnificat (Lc 1, 46-55): um canto baseado na escuta e meditação da Sagrada Escritura.

Na maioria das vezes, no entanto, nosso contato com Deus não passa do primeiro degrau, do mero entendimento. Temos uma enorme facilidade de esquecer as passagens da Escritura. Isto porque a mente tende a deletar aquilo que não damos serventia. Mesmo que sejam textos da Palavra de Deus.

Só escutar não basta. É preciso conservar a Palavra e meditá-la no coração.

Em vista disso, alguns escritores criaram uma espécie de sub-degrau para a Meditatio: a "Ruminatio" que é o trabalho de "conservar" a palavra na mente e no coração, através do retorno ao texto e até mesmo da memorização.

"Um Cristão deve meditar regularmente para não ser como os três primeiros terrenos da parábola do semeador". (CIC 2708).


terça-feira, 13 de julho de 2010

Lectio

Podemos dizer que a Lectio Divina começa, antes, com o esforço de Deus para comunicar-se conosco. É ele quem nos atrai, quem faz o nosso coração arder como aquela sarça no monte Horeb, faz com que nos aproximemos, e, do meio da sarça, nos chama pelo nome: "Moisés, Moisés!" (Cf. Ex 3, 1-6). E nosso primeiro movimento é dizer: "Eis-me aqui! (Ex 3, 4). Quando, enfim, escutamos a voz de Deus, aí começa para nós a Lectio Divina.

À leitura, eu escuto, é que diz o monge Guigo II, explicando o primeiro degrau de sua escada. E, ao prestar atenção, trazemos o conhecimento de Deus para o nosso conhecimento. Decodificamos a mensagem divina para a linguagem humana. Acrescentamos informação do céu ao nosso entendimento terreno.

Através da Lectio, a razão busca sentidos para a mensagem, as explicações para as figuras de linguagem, a localização no espaço e no tempo, o contexto histórico, a intencionalidade discursiva. Colhemos palavras, frases, sentidos, como colhemos flores num jardim.

A "leitura", porém, é apenas o primeiro degrau, a porta de entrada para os outros passos da Lectio Divina.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Fontes da Lectio Divina

Partimos da premissa monástica de que a oração nasce da leitura assídua e diligente das Escrituras (Orígenes). A Palavra de Deus é a fonte por excelência da Lectio Divina. Dessa forma, a Liturgia das Horas, por ser composta basicamente de textos extraídos da Sagrada Escritura, além de conter, entre outros elementos, hinos, antífonas e escritos, lapidados na tradição viva da Igreja, é opção privilegiada para o exercício da Lectio Divina.

Nesse processo comunicativo, nos colocamos, primeiramente como receptores, o Espírito Santo como emissor da mensagem, e o principal meio para nos transmiti-la é a Escritura Sagrada.
Mas a voz de Deus ressoa em toda parte:
"Os céus proclamam a glória do Senhor,
e o firmamento, a obra de suas mãos;
o dia ao dia transmite esta mensagem,
a noite à noite publica esta notícia.
Não são discursos nem frases ou palavras,
nem são vozes que possam ser ouvidas;
seu som ressoa e se espalha em toda a terra,
chega aos confins do universo a sua voz." (Sl 18, 2-5)

Podemos ouvi-lo nos murmúrios da natureza, nos acontecimentos diários, nas obras da arte humana, lê-lo na história, nas canções, na catequese da Igreja...

Para isso é necessário, antes de tudo, silêncio. Não apenas de ausência de palavras, mas de atenção e abandono, de renúncia de expectativas e (pré)conceitos, pois o Senhor irá falar. É a paz que ele vem anunciar (Sl 84, 9).





quinta-feira, 8 de julho de 2010

Lectio Divina


Muitos já ensinaram sobre a Lectio Divina, sua origem, seus passos, seus objetivos. Sobre o tema é fácil de encontrar na Internet, seja em português, seja em qualquer língua. Leia especialmente "Scala Claustralium (A Escada dos Monges)".

Mesmo assim, muitos ainda pedem explicações sobre essa antiquíssima prática. Tentarei então, em pausas, descrever aqui minha própria experiência na prática da Lectio.

Muitos traduzem "Lectio Divina" como "lição" ou "leitura de Deus", "leitura orante da Palavra". Eu a chamo de "leitura sob a inspiração do Espírito", uma vez que a Escritura é a própria voz do Espírito de Deus, e é do Espírito que deve brotar a nossa oração quotidiana (Cf. Rm 8, 26).

Devo chamar a atenção, como estudioso das Letras, que entendo a "leitura" não apenas como uma intelecção de textos escritos, mas como um processo, que começa na decifração dos códigos linguísticos, sejam eles escritos ou não, verbais ou não verbais, e termina na produção de outro texto que flui da mente e do coração através das nossas faculdades, seja da voz, da escrita ou
qualquer outra forma de expressão.

A Lectio Divina é um processo. Como diria o monge Guigo, uma escada. Que leva, em quatro passos, da terra ao céu.


terça-feira, 6 de julho de 2010

Saudade

"Porque te entristeces, ó minh'alma,
a gemer no meu peito?
Espera em Deus! Louvarei novamente
o meu Deus Salvador!" (Sl 42, 5 - LH, II Terça-feira)

É triste quando nos colocamos no lugar do salmista que compõe sua arte no exílio.
Que saudade e melancolia transparecem nas canções. Longe de Sião não havia como adorar o Deus de Israel. Afastado da Montanha santa só restavam as lembranças... E a esperança de reencontrar-se com Deus. E, triste, o salmista
pede:
"Enviai vossa luz, vossa verdade[...] que me levem ao vosso Monte santo[...] Então irei aos altares do Senhor, Deus da minha alegria. Vosso louvor cantarei, ao som da harpa, meu Senhor e meu Deus!" (Sl 42,3a.c-4)
Belas canções brotam do fundo da saudade. Na desolação do exílio nascem do peito profundas súplicas. E nosso coração se deleita na oração inspirada que nos traz as Sagradas Escrituras.

Mas chega a hora (já estamos nela) em que os adoradores verdadeiros adorarão o Pai em espírito e verdade, porque assim quer o pai que sejam os que o adorem. Deus é espírito, e os que o adoram, devem adorar em espírito e verdade. (Jo 4,23-24)

Que bom, Senhor, que aplainastes as montanhas, e instituístes o espírito como lugar de adoração.
E de onde quer que estejamos, quer em Garizim ou em Sião, quer junto com os irmãos ou
recolhidos na solidão, podemos adorar o Pai verdadeiramente e cantar os seus louvores ao som da harpa.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sede de Deus


Acordo. Sinto do dia: a claridade, o barulho da chuva, a voz dos passantes...
Despeço-me do leito. Me abraça o frio. Procuro o meu Deus e meu Senhor. Como a corça procura pelas águas correntes (Sl 41,2). Assim, suspirando de desejo pelo Deus vivo, canta minha alma. E espera ansiosa ver sua face.
Tende piedade e compaixão, Deus do universo.
Deste povo que é vosso, tende pena.
Apiedai-vos de Sião, vossa cidade
o lugar santificado onde habitais!
Enchei Jerusalém com vossos feitos,
e vosso povo, com a luz de vossa glória! (Eclo, 1a.14a.15-16)
Ó, Senhor, nós somos o teu povo. O nosso ser santificas para em nós habitar.
Enchei-nos, Senhor, com a luz de vossa glória, para que seja honrado vosso nome. E os estranhos vejam como é grande a vossa força. (Eclo 36, 3b)

Conservai-nos, Senhor, em vosso serviço! (prece das Laudes)


domingo, 4 de julho de 2010

Vigílias

"Chegamos ao meio da noite..." (Hino das Vigílias, II Domingo)
A letra do hino nos desperta e nos situa numa realidade interessante:
O que nos trouxe para o meio da noite? O que nos faz saltar do nosso sono no meio dessa madrugada? O que nos fez chegar até essa Hora bendita?
A melodia avança e responde:
"Profética voz nos chamou..."
E pensamos: que bom que escutamos e atendemos! Que bom que o coração não se fechou, como em Massa ou em Meriba!
A voz profética que nos chamou também nos "exorta a cantarmos felizes de Deus Pai e Filho o louvor".
Sim, cantamos! E cantamos felizes. Quem dera cantemos sempre e sempre. Em madrugadas sem conta e, "dignos da glória do mundo que vem, possamos cantar vossa glória no céu para sempre. Amém". (Liturgia das Horas, Domingo da 2ª Semana do Saltério)

Salmo 94

"Oxalá ouvísseis hoje a sua voz:

'Não fecheis os corações como em Meriba,

como em Massa, no deserto, aquele dia,

em que outrora vossos pais me provocaram,

apesar de terem visto as minhas obras'".


Quem dera, quem dera, Senhor, ouvíssemos sempre a tua voz
e atendêssemos sempre o teu pedido: de não nos tornarmos endurecidos,
e, apesar de conhecermos as tuas obras, provocar-te com nosso mau procedimento.
Concedei então, Senhor, tua graça ao vosso povo: que ele reconheça neste mundo a tua voz
como ovelha que distingue a voz do pastor.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A oração é a luz da alma

(Das Homílias do Pseudo-Crisóstomo)

A oração, o diálogo com Deus, é um bem incomparável, porque nos põe em comunhão íntima com Deus. Assim como os olhos do corpo são iluminados quando recebem a luz, a alma que se eleva para Deus é iluminada por sua luz inefável. Falo da oração que não é só uma atitude exterior, mas que provém do coração e não se limita a ocasiões ou horas determinadas, prolongando-se dia e noite, sem inter­rupção.

Com efeito, não devemos orientar o pensamento para Deus apenas quando nos aplicamos à oração; também no meio das mais variadas tarefas - como o cuidado dos pobres, as obras úteis de misericórdia ou quaisquer outros serviços do próximo - é preciso conservar sempre vivos o desejo e a lembrança de Deus. E assim, todas as nossas obras, tempe­radas com o sal do amor de Deus, se tornarão um alimento dulcíssimo para o Senhor do universo. Podemos, entretanto, gozar continuamente em nossa vida do bem que resulta da oração, se lhe dedicarmos todo o tempo que nos for possível.

A oração é a luz da alma, o verdadeiro conhecimento de Deus, a mediadora entre Deus e os homens. Pela oração a alma se eleva até aos céus e une-se ao Senhor num abraço inefável; como uma criança que, chorando, chama sua mãe, a alma deseja o leite divino, exprime seus próprios desejos e recebe dons superiores a tudo que é natural e visível.

A oração é venerável mensageira que nos leva à presen­ça de Deus, alegra a alma e tranqüiliza o coração. Não penses que essa oração se reduza a palavras. Ela é desejo de Deus, amor inexprimível que não provém dos homens, mas é efeito da graça divina, como diz o Apóstolo: Nós não sabemos o que devemos pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis (Rm 8,26).

Semelhante oração, quando o Senhor a concede a al­guém, é uma riqueza que não lhe pode ser tirada e um alimento celeste que sacia a alma. Quem a experimentou inflama-se do desejo eterno de Deus, como que de um fogo devorador quê abrasa o coração.

Praticando-a em sua pureza original, adorna tua casa de modéstia e humildade, torna-a resplandecente com a luz da justiça. Enfeita-se com boas obras, quais plaquetas de ouro, ornamenta-se de fé e de magnanimidade em vez de paredes e mosaicos. Como cúpula e coroamento de todo o edifício, coloca a oração. Assim prepararás para o Senhor uma digna morada, assim terás um esplêndido palácio real para o receber, e poderás tê-lo contigo na tua alma, transformada, pela graça, em imagem e templo da sua presença.

(Extraído de: http://www.liturgiadashoras.org/oficiodasleituras/sextacinzas.html)

"Eu vos louvo sete vezes cada dia, porque justos são os vossos julgamentos." (Sl 118, 164)

Dá-nos a graça, Senhor, em cada dia, pelo menos um instante de tua presença.